Blog do Adilson Ribeiro

Quarta Feira – 23:20 – Líderes religiosos de Campos relatam ataques e ameaças de traficantes a terreiros de Umbanda e Candomblé. Veja abaixo:

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Criminosos têm expulsado os seguidores e saqueado os espaços. Em 2018, duas lideranças foram assassinadas.
Campos vive situação semelhante aos ataques que acontecem em terreiros da Baixada Fluminense.
Os terreiros da cidade de Campos dos Goytacazes, Norte Fluminense, vivem em clima de medo. Dos cerca de 200 centros de religiões de matriz africana ameaçados em todo o estado , segundo o babalaô Ivanir dos Santos, 40 deles estão localizados no município. Traficantes da região têm expulsado os seguidores, ocupado os terreiros e saqueado os espaços. Em 2018, duas lideranças religiosas foram assassinadas dentro das casas. As ameaças chegaram à internet, onde páginas locais e áudios compartilhados relatam intimidações a pais de santo.
— Campos vive, hoje, a situação mais grave do estado, com ameaças, mortes e também perseguições. Pode-se dizer que a região superou cidades da Baixada Fluminense, que sempre registraram um forte histórico de ataques a terreiros — afirma o babalaô e líder religioso.
Um pai de santo de Campos que vem sendo ameaçado e não quis se identificar conta que a cidade contabiliza cerca de mil casas que servem como espaços de prática das religiões de matriz africana. Ele lembra que a perseguição a terreiros locais começou ainda na década de 1970, quando um delegado da cidade ia pessoalmente fechar as casas. Depois, segundo ele, a intolerância seguiu com fiéis de outras religiões, nos anos 1990 e 2000. Já em 2013, tiveram início os relatos de invasões pelo tráfico.
“Os terreiros ficam dentro de conjuntos habitacionais construídos pela prefeitura e comandados por traficantes. Há casos onde os bandidos colocam as pessoas para fora e destroem tudo. Em outros, eles limitam o horário de atividade”
Ele explica que em Campos os terreiros são montados dentro das próprias casas dos pais de santo, diferentemente de locais como a Baixada Fluminense, onde as práticas funcionam em casas separadas.
Aqui, se você falar que é umbandista ou candomblecista, corre o risco de perder o emprego ou ter o seu filho discriminado na escola. A intolerância é grande demais.
Segundo o líder, as intimidações o fizeram mudar toda a sua rotina:
— Eu recebo inúmeras ligações de números privados, sempre com ameaças de morte. Já fui abordado por traficantes no supermercado. Não posso mais sair à noite, ir a barzinhos com a minha mulher. Muda tudo, eu não sei o que me espera na próxima esquina. Mas não penso em sair de Campos, minha luta é aqui. Aliás, essa luta é nossa. Se corrermos agora, vamos perder de vez a guerra — diz o pai de santo.
Durante o ano passado, seguidores das religões de matriz africana de Campos registraram boletins de ocorrência denunciando ofensas por parte de um perfil do Facebook “com mensagens que incitam o ódio e a violência contra os líderes e adeptos dos cultos afro-brasileiros”. Os registros revelam, inclusve, que o perfil antecipava invasões e ataques que viriam a acontecer. Hoje, a página ainda segue ativa. No entanto, as últimas publicações foram feitas em maio de 2018.
— Os “meninos” já disseram que vão fechar os terreiros em mais quatro bairros até o fim do ano. Eles (traficantes) falam que isso é ação do diabo. Infelizmente nossa religião está muito massacrada — conta uma mãe de santo que também não quis se identificar: — Só quem já passou por essa situação sabe o quanto é difícil. É algo muito sério.
As duas mortes aconteceram em Guarus, Writing Studio tor”>
— Campos vive, hoje, a situação mais grave do estado, com ameaças, mortes e também perseguições. Pode-se dizer que a região superou cidades da Baixada Fluminense, que sempre registraram um forte histórico de ataques a terreiros — afirma o babalaô e líder religioso.
Um pai de santo de Campos que vem sendo ameaçado e não quis se identificar conta que a cidade contabiliza cerca de mil casas que servem como espaços de prática das religiões de matriz africana. Ele lembra que a perseguição a terreiros locais começou ainda na década de 1970, quando um delegado da cidade ia pessoalmente fechar as casas. Depois, segundo ele, a intolerância seguiu com fiéis de outras religiões, nos anos 1990 e 2000. Já em 2013, tiveram início os relatos de invasões pelo tráfico.
“Os terreiros ficam dentro de conjuntos habitacionais construídos pela prefeitura e comandados por traficantes. Há casos onde os bandidos colocam as pessoas para fora e destroem tudo. Em outros, eles limitam o horário de atividade”
Ele explica que em Campos os terreiros são montados dentro das próprias casas dos pais de santo, diferentemente de locais como a Baixada Fluminense, onde as práticas funcionam em casas separadas.
Aqui, se você falar que é umbandista ou candomblecista, corre o risco de perder o emprego ou ter o seu filho discriminado na escola. A intolerância é grande demais.
Segundo o líder, as intimidações o fizeram mudar toda a sua rotina:
— Eu recebo inúmeras ligações de números privados, sempre com ameaças de morte. Já fui abordado por traficantes no supermercado. Não posso mais sair à noite, ir a barzinhos com a minha mulher. Muda tudo, eu não sei o que me espera na próxima esquina. Mas não penso em sair de Campos, minha luta é aqui. Aliás, essa luta é nossa. Se corrermos agora, vamos perder de vez a guerra — diz o pai de santo.
Durante o ano passado, seguidores das religões de matriz africana de Campos registraram boletins de ocorrência denunciando ofensas por parte de um perfil do Facebook “com mensagens que incitam o ódio e a violência contra os líderes e adeptos dos cultos afro-brasileiros”. Os registros revelam, inclusve, que o perfil antecipava invasões e ataques que viriam a acontecer. Hoje, a página ainda segue ativa. No entanto, as últimas publicações foram feitas em maio de 2018.
— Os “meninos” já disseram que vão fechar os terreiros em mais quatro bairros até o fim do ano. Eles (traficantes) falam que isso é ação do diabo. Infelizmente nossa religião está muito massacrada — conta uma mãe de santo que também não quis se identificar: — Só quem já passou por essa situação sabe o quanto é difícil. É algo muito sério.
As duas mortes aconteceram em Guarus, área conhecida por ser zona de conflito do tráfico. Em agosto do ano passado, Leonardo Felipe, de 25 anos, foi assassinado a tiros. Além de líder religioso, Lelê, como era conhecido, era travesti. Já em março de 2018, Bruno de Yemanjá foi morto no momento em que fazia uma oferenda em casa. Na ocasião, nada foi levado. Os casos foram registrados na 146ª DP (Guarus).
O delegado Gilbert Stivanello, da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), acredita que o número de 200 ameaças no estado seja questionável. Segundo ele, muitos casos são aceitos como intolerância religiosa sem, de fato, serem. Sobre os episódios no Norte Fluminense, Stivanello quer averiguar mais a motivação dos crimes.
— Os assassinatos estão sendo investigados para chegarmos à motivação. Os casos de Campos não foram comunicados à Decradi, que fica a quatro horas de distância daqui, fazendo que as pessoas optem por registrar a ocorrência na delegacia local. Nós vamos entrar em contato com a polícia de lá para apurar mais a motivação. O que temos são cerca de 20 ataques investigados na Baixada Fluminense.
O babalawô Ivanir dos Santos ao lado do delegado Gilbert Stivanello, da Decradi Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Um evento proposto pelo Ministério Público estadual (MPRJ) para discutir a intolerância e a perseguição religiosa foi realizado nesta segunda-feira, na sede da instituição. O encontro reuniu líderes religiosos, promotores, procuradores da República e representantes da sociedade civil para debater a gravidade do problema.

O Globo

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