Blog do Adilson Ribeiro

Terça-feira – 18:03 – Após exposição na web, influenciadora branca admite ter fraudado cota na UFRJ. Veja abaixo:

Jovem ingressou na universidade na modalidade que contemplava “candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas independentemente da renda”

Rio – A influenciadora digital Larissa Busch, de 24 anos, admitiu ter fraudado o sistema de cota racial na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em uma longa postagem em seu perfil no Instagram, nesta terça-feira (2). A jovem, que é branca, ingressou na instituição de ensino no curso Comunicação Social, no segundo semestre de 2014, na modalidade que contemplava “candidatos autodeclarados pretos, pardos ou indígenas independentemente da renda“.

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“Em 2014, seis anos atrás, fiz a pior escolha da minha vida e estou aqui para falar sobre ela com toda culpa que carrego. Entrei na universidade me autodeclarando ‘parda’. Sim, isso é horrível e não tem um dia que não pense nisso. Há muito tempo guardo essa vergonha dentro de mim e por mais que me sinta triste que o episódio mais sujo da minha vida esteja se tornando público, no fundo sempre soube que esse dia iria chegar”, disse Larissa em um trecho do texto.
Larissa Busch – Reprodução Instagram

O pedido de desculpas da produtora de conteúdo, no entanto, aconteceu após a repercussão de uma publicação dela sobre o movimento antirracista #VidasNegrasImportam — ato em resposta ao racismo e à violência policial praticada pelo Estado, nas periferias do Brasil e no mundo, contra a população preta, que segue acontecendo e aumentando nos últimos tempos mesmo em meio à uma pandemia.

Uma internauta escreveu no Twitter: “Não sei porque não fizeram isso antes, mas está aí. tem gente postando coisa sobre racismo hoje que nunca deu a mínima pra isso. essa influenciadora digital, por exemplo, entrou na UFRJ fraudando cotas e nunca sofreu NADA em relação à isso. quem quiser checar”. Na publicação, havia ainda links para os ingressantes cotistas da UFRJ em “2014.2”, em que constava a matrícula de Larissa.

A jovem, que também trabalha como DJ e faz eventos de diversas marcas, passou a receber diversas críticas em seu perfil no Instagram. Primeiro, ela apagou o post em que falava sobre o racismo. Porém, as críticas persistiram e a jovem chegou a desativar sua conta na rede social. Até a publicação desta reportagem, Larissa já havia perdido quase 3 mil seguidores.
‘Achava que minha ancestralidade negra me justificava parda
Nesta manhã, a influenciadora compartilhou o seu posicionamento sobre o episódio. “Por mais absurdo que pareça, aos 18 anos, eu achava que minha ancestralidade negra me justificava parda. Acreditava que ter uma bisavó negra me tornava não-branca. Eu estava errada. Minha ancestralidade NÃO me torna parda. Eu sou uma mulher branca e tive muitos privilégios por isso”, comentou a DJ, em outro trecho da postagem no Instagram.
Para Thamy Lopes, jornalista e militante do movimento negro, o pedido de desculpas de Larissa é problemático. “É muito complicado, ela utilizar da questão da ancestralidade para justificar a entrada na universidade. Porque basta ver o que ela representa. Ela representa a imagem de uma mulher branca e é mais complicado ainda, ela usar a questão da avó para se colocar numa posição. Quando na verdade, ela está tirando a vaga de outra pessoa negra”, afirma a fundadora do canal Favelize-se.
“O objetivo dela era ocupar uma vaga, que teoricamente era para ser ocupada por uma pessoa negra, que passa por diversas desigualdades sociais oriundas do racismo”, completa a jornalista.
Larissa Busch – Reprodução Instagram
Thamy destaca que a questão da cor no Brasil é diferente dos Estados Unidos, por exemplo. “Lá vigora a regra de uma gota de sangue. Então, se você tiver um pai negro e uma mãe branca, você não vai ser lido como branco. No entanto, aqui no Brasil, você pode ser lido como branco e vai ser socializado como branco. E isso significa que você vai ter mais privilégios por isso.”
Ainda segundo a publicação de Larissa Busch, ela abandonou a graduação na UFRJ dois anos depois “por não conseguir carregar o peso da culpa”. Ao O DIA, colegas de turma de Larissa disseram, porém, que ela deixou o curso por querer se concentrar na produção de conteúdo para as redes sociais.
Writing Studio disposta a seguir aprendendo. Estou disposta a abrir mão dos meus privilégios e continuar lutando pelas causas que acredito mesmo sabendo que dos erros irreparáveis que cometi. Mesmo sabendo que a internet não perdoa, espero continuar aprendendo com esse erro, agora público.

Fonte: O Dia.

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