Blog do Adilson Ribeiro

Quinta-feira – 16:57 – Campeonato Saudita promete nova era no futebol. Veja Abaixo:

Cristiano Ronaldo, Benzema, Roberto Firmino, Mané e Kanté em campo. Não, não é rodada da Liga dos Campeões. Começa nesta sexta-feira a Saudi Pro League, liga profissional da Arábia Saudita, que atraiu os holofotes do futebol mundial depois de muito investimento na atual janela de transferências. Os clubes bateram recorde e ultrapassaram R$ 2,4 bilhões em contratações.

Cristiano Ronaldo chegou na Arábia Saudita no início do ano, mas dá para dizer que ele puxa a fila dos grandes nomes da liga. Ele ganhou a companhia no Al-Nassr do volante Brozovic, do lateral-esquerdo Alex Telles e, mais recentemente, do atacante Mané. O salário do senegalês será de R$ 16,2 milhões por mês, segundo a Sky Sports.

Atual campeão da liga, o Al-Ittihad chocou o mercado da bola ao convencer Benzema a deixar o Real Madrid. Não parou por aí e ainda contratou o volante Kanté, o atacante Jota e o brasileiro Fabinho. De acordo com o jornal “Daily Express”, os salários de Benzema e Kanté serão maiores do que de sete elencos da Premier League.

Maior vencedor do campeonato com 18 títulos, o Al-Hilal foi o que mais gastou: mais de 178 milhões de euros em Milinkovic-Savic, Rúben Neves, Malcom e Koulibaly. O zagueiro não titubeou: “Com este dinheiro poderei ajudar toda a minha família a viver bem.”

O Al-Ahli é dos quatro grandes aquele há mais tempo sem ser campeão nacional (desde 2016). O clube tirou do Chelsea o senegalês Mendy, eleito pela Fifa o melhor goleiro em 2021. Também fechou com Roberto Firmino e o volante Kessié. Desembolsou 30 milhões de libras para trazer o atacante Mahrez, ex-Manchester City.

Dos 20 clubes em todo o mundo que mais gastaram nesta janela de transferências, quatro são da Arábia Saudita — justamente o quarteto abaixo. O Al-Hilal ocupa o Top-5 mundial.

Na comparação entre ligas do investimento feito, a Saudi Pro League também fica em quinto lugar, atrás da Premier League, Serie A, Ligue 1 e Bundesliga, e na frente da espanhola LaLiga.

O plano é ter no mínimo três atletas top em cada um dos quatro grandes do país. A liga criou um programa (PACE) que centraliza as contratações para os clubes, do orçamento até o cuidado com o jogador quando chega.

O alto investimento também se deu na contratação de técnicos. O Al-Nassr tirou o português Luís Castro do Botafogo, líder do Brasileirão. O Al Hilal pegou Jorge Jesus. O Al-Ettifaq fechou com Gerrard. No Al-Ahli, Matthias Jaissle, ex-RB Salzburg. Slaven Bilic no Al-Fateh. Também houve as ofertas para José Mourinho, Diego Simeone…

— Isso é mais do que só trazer jogadores de nível mundial ou gastar muito dinheiro nesses atletas. A Saudi Pro League tem a incrível e vital oportunidade de ajudar o país a atingir suas ambições futebolísticas — afirmou o CEO da Saudi Pro League, Saad Allazeez, em julho.

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE:

 

Diga que viu no Blog do Adilson Ribeiro ganhe 20% de Desconto e pague seus Óculos Novos em 10 vezes sem juros, nas Óticas Precisão, Fábrica de Óculos e Shopping dos Óculos. Assista ao vídeo abaixo:

 

Como a liga saudita vai pagar por isso?

Essa é a primeira pergunta que vem à cabeça quando se lê o quanto os clubes da Arábia Saudita já se comprometeram a pagar por todas essas contratações de peso. A resposta: dinheiro do governo.

Em junho, o país anunciou mudanças no futebol local. O Fundo Soberano da Arábia Saudita (PIF), controlado pelo governo, assumiu as rédeas dos quatro maiores clubes: Al-Ahli, Al-Ittihad, Al-Hilal e Al-Nassr. O governo agora é dono da propriedade de 75% desses quatro. A maioria dos membros das diretorias também será ligada ao Fundo.

Um fundo soberano é um fundo composto por capital gerado pelo governo, financiado por várias fontes: reservas bancárias, superávits comerciais e royalties do petróleo, por exemplo. De acordo com o Instituto Sovereign Walth Fund, o PIF da Arábia Saudita é o sexto maior do mundo. São mais de 776 bilhões de dólares (R$ 3,7 trilhões) em ativos.

— Fundos deste tipo visam investimentos de longo prazo. O da Arábia Saudita tem mais a função de desenvolvimento do país, de determinadas áreas da economia local. O portfólio é bem variado, é um fundo bem abrangente. Há membros da administração do governo indicados também no fundo — explicou Caio Arantes, sócio e líder da área de fundos de investimento da consultoria e auditoria PwC Brasil.

O fundo saudita tem ações em empresas de games como Activision Blizzard e Eletronic Arts, de transporte como a Uber, de tecnologia como Meta e a Microsoft. Ele atua em 13 setores. O investimento no futebol para 2023/24, estimado em 800 milhões de dólares, é ínfimo se comparado aos projetos “giga” do PIF, como a construção da região de NEOM, no noroeste do país, por 500 bilhões de dólares — R$ 2,4 trilhões.

— Representa uma mudança significativa em investimentos em esporte. O fundo saudita também tem uma estratégia política. O futebol faz parte de uma estratégia mais ampla, não só de ter ativos de alta rentabilidade, mas que atraiam investimentos e visibilidade — disse Leonardo Cotta, líder da área societária do escritório Marcos Martins Advogados.

Fontes que lidam diretamente com o PIF acreditam que a tendência é os sauditas colocarem “o pé firme” e continuarem com esse investimento nos próximos anos. O que pode mudar no longo prazo, para menos, é a oferta de salários “absurdos”.

Mohammed bin Salman, o primeiro-ministro da Arábia Saudita — Foto: Getty Images

Por que a Arábia investe pesado no futebol?

O governo tem como objetivo colocar Saudi Pro League entre as 10 melhores do mundo até 2030. Outra meta é aumentar as receitas comerciais da liga para 1,8 bilhão de riales (R$ 4,3 bilhões) e chegar ao valor de mercado de 8 bilhões de riales (R$ 10,5 bilhões).

A justificativa oficial é “promover oportunidades de investimento e um ambiente atrativo no setor esportivo”. Tal movimento faz parte da segunda fase das ações no esporte do projeto nacional “Visão 2030”. O esporte é visto como fundamental para diversificar a economia do país e diminuir a dependência da indústria de combustíveis fósseis. A Arábia é o segundo maior produtor de petróleo do mundo (representa 40% do PIB).

— A Arábia Saudita está em posição de projeção, tem poder e recursos para isso. A aspiração é estar no centro de uma nova ordem mundial. O consumo de petróleo e gás vai cair drasticamente a partir de 2045. O país terá cerca de 20 anos para transformar completamente a sua economia, antes que a principal fonte de receitas nos últimos 100 anos desapareça — comentou Simon Chadwick, professor de esporte e economia geopolítica da Escola de Negócios SKEMA.

O futebol seria o carro-chefe para estimular o mercado interno de entretenimento e atender principalmente às demandas dos jovens, maioria da população — 63% dos quase 36 milhões de habitantes da Arábia Saudita têm menos de 30 anos. Durante muito tempo, estádios foram a única opção de lazer (para os homens) no país.

O fiador dessa mudança é o príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, filho do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, e quem de fato está no poder. Ele foi nomeado primeiro-ministro em setembro, mas dita os rumos há anos. Também é o presidente do Fundo Soberano da Arábia Saudita. Sua intenção é abrir a economia e atrair investimentos. Além disso, estimular o turismo e mudar a imagem conservadora do país.

Mohammed bin Salman é acusado pela morte do jornalista Jamal Khashoggi, que fazia oposição ao governo.
Essa modernização não se espalha para a política. O sistema de governo segue sendo uma monarquia absoluta e hereditária, sem eleições. Por outro lado, houve nos últimos anos a restrição da polícia religiosa e a permissão para mulheres dirigem. Em 2018 elas puderam comparecer a estádios de futebol pela primeira vez.

O governo da Arábia Saudita é acusado de tentar usar o esporte em geral para tirar o foco de outros problemas do país relacionados a violações de direitos humanos — ação conhecida como “sportswashing”. Há também o movimento de tentar sediar a Copa do Mundo de 2030 (candidatura não confirmada oficialmente).

— Há verticalização do poder com Mohamed bin Salman. Há um pouco de sportswashing, porque o esporte e o mercado ao redor dele criam uma nova imagem para a Arábia Saudita. Mas é muito mais complexo do que isso. Há uma Arábia Saudita com desafios muito importantes, como o da juventude. Há disputas de poder — disse Raphaël Le Magoariec, pesquisador da geopolítica do Golfo Pérsico e o uso do esporte.

Os riscos da “Tempestade Saudita”

A entrada turbinada dos sauditas mexeu com o mercado de transferências. Ampliou a concorrência e provocou inflação dos preços, segundo especialistas. Efeito comparado ao investimento feito pelos clubes da China em 2016/17, e pelo Paris Saint-Germain quando comprou Neymar por 222 milhões de euros, em agosto de 2017.

Ela fez explodir o número de supostos “intermediários”, que alegam representar clubes da Arábia Saudita, ou jogadores que podem servir para este mercado, ou clubes vendedores.

E vender ou emprestar atletas caros que não interessam mais é atraente aos clubes da Europa, que tentam se adequar aos limites financeiros. Para competir nos torneios continentais, ele podem gastar com transferências, comissões de agentes e salários até 90% das receitas. O percentual cairá para 80% em 2024, e será de 70% de 2025 em diante.

Com informações do GE.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *