Blog do Adilson Ribeiro

Sábado – 10:24 – Conheça o povoado argentino em que toda riqueza é distribuída. Veja Abaixo:

Você consegue imaginar um mundo sem guerras, onde todos vivam felizes e unidos? Na Mariápolis Lía — vilarejo a três quilômetros de O’Higgins, na área mais produtiva da província de Buenos Aires, em Chacabuco, na Argentina — vivem centenas de “focolarinos”.

O Movimento dos Focolares foi criado na Itália, em 1943, e propõe um estilo de vida baseado em modelos cristãos, embora esteja aberto a todas as religiões. Com 25 cidadelas no mundo, presença em 182 países e mais de 4 milhões de adeptos, eles recriam um mundo ideal, com um governo de pequena escala que busca a fraternidade. Homens e mulheres vivem separados.

— Queremos mostrar que outra vida é possível e como seria o mundo se todos nos amássemos — diz a carioca Ângela Correia, uma “focolarina” radicada na Argentina. — Há muito mais coisas que nos unem do que as que nos separam.

A apenas 250 quilômetros do centro de Buenos Aires, a comunidade quer mudar as regras de convivência e a economia mundial. Ela é autogerida e mantida com recursos próprios. Ali vivem 110 pessoas, de vários países, que vêm mergulhar no sonho de um mundo melhor.

Alguns se consideram “focolarinos”, e vivem em focolares — casas onde cada membro tem uma ocupação específica. São consagrados e fazem votos de obediência e castidade. Existem 34 focolares em toda a Argentina.

Há também os “focolarinos” não consagrados, pessoas casadas que vivem com suas famílias, e os jovens voluntários que ficam no local durante um ano para viver a experiência. Na Mariápolis Lía vivem pessoas de todo o país e de mais de cinco nacionalidades.

A comunidade está instalada num antigo convento da congregação dos monges capuchinhos do início do século XX. É também uma hospedagem (aberta) para quem deseja um espaço de reflexão e tranquilidade. No Bar Betania, vendem os produtos que fabricam: conservas, compotas, artesanato em madeira e doces. Voluntários trabalham como atendentes.

Os “focolarino” trabalham de terça a sábado, seis horas por dia e recebem um salário. O trabalho é complementado com vivências acadêmicas e atividades relacionadas à espiritualidade.

— Nossa segunda é terça — diz Joaquín Tambornini, 23 anos, estudante de Administração de Empresas. — Muitos jovens que vêm para a Mariápolis têm aqui seu primeiro emprego.

Formação e emprego para voluntários

Em uma área de 50 hectares divididos em dois espaços, existem três bairros: Campo Verde, Villa Blanca e Pueblo Prosperidad. No primeiro ficam os homens, no segundo as mulheres. No terceiro vivem as famílias e está uma fábrica de biscoitos, a Pasticcino. No Villa Blanca há outra fábrica, o Sorriso, de chocolates. Ambas distribuem seus produtos nas principais redes de café do país, como Café Martínez e Starbucks, entre outras. As fábricas também empregam mais de 30 pessoas de O’Higgins.

— É simples e poderoso: somos todos um, não vivemos isolados — afirma a brasileira Ângela, que é consagrada.

Norberto Cartecchini, outro “focolarino” consagrado, explica que além do emprego nas fábricas, os jovens recebem formação. Duas vezes por semana diferentes professores e profissionais, alinhados ao movimento, dão aulas divididas em “eixos” de conhecimento. Todo o conhecimento é centrado no Evangelho, em leituras de diferentes fontes filosóficas e numa mensagem na qual se baseia todo o movimento: a unidade dos seres humanos.

A formação é apoiada pela Universidade Nacional do Noroeste da Província de Buenos Aires (UNNOBA), com sede na vizinha Junín.

 

 

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— São três etapas que respondem a três perguntas: quem sou eu, quem é o outro e o que farei no mundo — diz Cartecchini.

As empresas que integram o movimento em nível global também são regidas por um modelo denominado Economia de Comunhão (EDC), onde a riqueza gerada é um bem comum e o plano é construir uma humanidade onde não existam sem-teto. As fábricas dentro das Mariápolis estão estruturadas neste modelo — são 20 no total em toda a Argentina. Existem outras em Portugal, Croácia e no Brasil.

— Não temos uma visão negativa do mundo, operamos com as leis do mercado, mas queremos transformá-lo por dentro — afirma Cartecchini.

Fábrica de chocolates funciona na comunidade — Foto: Ricardo Pristupluk/La Nación

Estado em miniatura

Os “focolarinos” também vão à missa, embora não seja uma obrigação, e todos os dias ao meio-dia — em todos os fusos horários onde há focolares — acontece o Time Out, alguns minutos de silêncio para rezar ou pensar na paz mundial.

— A ideia é que eles regressem às suas casas e transmitam este modo de vida — diz Correia. — Queremos mostrar que outra forma de vida é possível.

A Mariápolis Lía opera com a dinâmica de um Estado em miniatura. Há um governo representado por um delegado e uma delegada (governadores), e um conselho de 16 conselheiros, onde cada um responsável por um tema: economia, saúde, vida espiritual, comunicação, etc.

— É horizontal, não é piramidal. Cristo preside — diz Cartecchini.

Em todo o planeta, o Movimento dos Focolares é sempre liderado por uma mulher, que tem um copresidente homem. Atualmente são Margaret Karram e Jesús Morán, ambos em Roma, que são eleitos a cada cinco anos e podem ser reeleitos. O Vaticano deve validar a escolha.

Os “focolarinos” costumam levar uma vida errante. O caso de Ângela é um exemplo: nasceu no Rio de Janeiro, mas seguindo o mandato da formação dos focolares, morou em Salta e Trelew, até chegar a Chacabuco.

— É um chamado, se amanhã eu tiver que ir para a África, estarei lá — afirma a brasileira.

Origem na Itália

A história do movimento começou nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial em Trento, na Itália, em 1943. A cidade foi duramente atingida por bombardeios, e uma jovem estudante de filosofia chamada Chiara Lubich teve uma visão: naquela cidade devastada pela guerra, ela realizaria reuniões para promover a unidade entre os homens. Organizadas nas montanhas, as reuniões eram convivências baseadas no trabalho mútuo, na renovação espiritual, no respeito às diversidades e na concretização de um mandamento de Jesus: “Sejam todos um”.

As reuniões — já no pós-guerra — duravam até uma semana e eram cada vez mais numerosas, com a participação maioritária de jovens, o que chamou a atenção do Vaticano. Naqueles anos, a Igreja criou a Ação Católica, com uma visão semelhante, embora muito mais fechada em termos de dogma cristão. Por isso, os focolares foram proibidos em Roma até 1962, quando a Santa Sé os autorizou.

Lubich decidiu então que a melhor forma de crescer era criar cidadelas. A primeira foi realizada em Loppiano, Florença, dando origem ao conceito das “Mariápolis”.

Em 1962 o movimento chegou à Argentina com a ajuda da “focolarina! Lía Brunet. Lubich visitou o país em 1964, 1965 e 1966. Em 1968, foi criada em O’Higginis a Mariápolis Lía, a única do país. Os 50 hectares incluem o antigo convento, agora totalmente restaurado, e uma capela datada de 1919. Lubich morreu em 2008 e, em 2015, o Vaticano iniciou a abertura de um processo de canonização e beatificação. Seu caso ainda está sendo avaliado.

Em 2018 Francisco visitou a Mariápolis de Loppiano, em Florença.

— Temos uma excelente relação com o Papa — afirma Cartecchini.

Com informações do Jornal O GLOBO.

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