Blog do Adilson Ribeiro

Quinta-feira – 11:13 – Paciente relata ‘graxa no pulmão’ por uso de vape, diz que ‘aparelho mata’ e que legalização não deve ser debatida. Veja Abaixo:

Farmacêutico Arnaldo Machado, de 47 anos, passou mais de 40 dias na UTI e teve pulmão em “colapso”. A norma que proíbe a venda de cigarros eletrônicos está em discussão na Anvisa, que decide nesta sexta (1º) sobre abertura de uma consulta pública.

 

Puxar o ar pelo nariz, mas não conseguir respirar. Sensação de “quase morte”. Cansaço para fazer as atividades mais simples do dia a dia. Esse é o relato do farmacêutico Arnaldo Machado, 47 anos, que teve complicações graves após o uso de cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, e passou um mês e meio na UTI entre a vida e a morte.

Embora a comercialização no Brasil seja proibida, esses dispositivos podem ser encontrados em qualquer esquina – e o consumo, especialmente entre os jovens, só tem aumentado, com sérias consequências para a saúde.

“Eu tive um colapso, meu pulmão parou e aí eu passei a jornada mais cruel da minha vida por conta de um aparelho que hoje eu vejo milhares de pessoas fazendo o uso. Esse aparelho mata, esse aparelho tira vida, não deveria nem estar sendo discutida a possibilidade de ele ser legalizado”, afirma o farmacêutico Arnaldo Machado. (Veja mais sobre o relato abaixo.)

Em meio a esse cenário, a diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se reúne na sexta-feira (1°) para discutir uma proposta de consulta pública para revisar a norma vigente, que atualmente regulamenta a proibição. Em paralelo, começou a tramitar no Senado Federal um projeto de lei que, se aprovado, autorizará a venda no país.

Como pano de fundo, há uma pressão da indústria do tabaco: o argumento principal é que permitir a venda facilitaria o controle. De outro lado, entidades médicas e especialistas refutam essa justificativa e alegam que a autorização seria um risco à saúde e um retrocesso no combate ao fumo.

No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM), Instituto Nacional do Câncer (Inca), Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Médica Brasileira (AMB), entre outras entidades médicas, se posicionam contra a liberação dos cigarros eletrônicos no Brasil (abaixo, veja os argumentos contra e a favor da liberação).

Como funciona o vape

 

Com aroma e sabor agradáveis, os vapes chegaram ao mercado em 2005 com a propaganda de serem uma opção menos agressiva que o cigarro comum para pessoas dependentes de nicotina.

O argumento principal dos defensores é que, ao contrário do cigarro comum, que contém tabaco e funciona por combustão (queima), liberando monóxido de carbono (que é cancerígeno), o vape é por vaporização, sem queima e, por isso, menos prejudicial.

Proibido desde 2009, cigarro eletrônico é facilmente encontrado no Brasil

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Gerações dos cigarros eletrônicos — Foto: Kayan Albertin/g1

Gerações dos cigarros eletrônicos — Foto: Kayan Albertin/g1

Só que a realidade é diferente, de acordo com a explicação dos especialistas. O cigarro eletrônico tem mais de duas mil substâncias, várias delas tóxicas e cancerígenas, como: glicerol, propilenoglicol, formaldeído, o acetaldeído, a acroleína e a acetona.

Para além disso, a maioria tem nicotina — substância altamente viciante — e em maior quantidade que o cigarro comum. O que faz com que as pessoas se viciem mais rápido.

Em menos de duas décadas dos dispositivos no mercado, ele já deu origem a uma doença específica, com estragos são devastadores, mesmo entre aqueles que fumam vape há pouco tempo. Uma lesão pulmonar que pode levar à morte em um curto espaço de tempo: a evali.

Só nos EUA, foram cerca de 70 mortes, segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), órgão de saúde norte-americano.

Arnaldo usou cigarro eletrônico por nove meses, teve evali e passou 43 dias na UTI — Foto: Arquivo Pessoal

Arnaldo usou cigarro eletrônico por nove meses, teve evali e passou 43 dias na UTI — Foto: Arquivo Pessoal

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Graxa no pulmão e três paradas cardíacas

 

Arnaldo Machado tinha uma rotina saudável e se surpreendeu com a rapidez com que ficou doente por causa do cigarro eletrônico.

Fumar cigarro eletrônico custou sete meses da minha vida. Hoje, digo que o cigarro eletrônico é uma máquina de matar e vai, além disso, colocar nosso sistema de saúde sob pressão se continuar [nesse ritmo].
— Arnaldo Machado, 47 anos, farmacêutico diagnosticado com evali

Ele conta que nunca tinha fumado cigarro comum antes de ter acesso ao cigarro eletrônico. Ele usava o dispositivo de uma empresa norte-americana em formato de pen-drive que havia ganhado de presente. A essência de menta o levou a pensar que não seria prejudicial.

“Tinha um sabor de menta gostoso, suave, que até parecia inofensivo. Não tinha nada a ver com cigarro comum. Passei a usá-lo socialmente. Depois, dava umas duas tragadas por dia. Fiz isso por nove meses até ver a minha vida mudar completamente”, relembra.

Em uma certa manhã, ele decidiu dar uma tragada, sentiu dor no peito e desistiu. No fim do dia, tentou de novo e, na sequência, teve febre e buscou o médico.

Quando vi a imagem do meu pulmão na radiografia, eu não acreditei. Estava completamente comprometido. Dois dias depois, já não conseguia respirar. Parecia que eu estava morrendo.
— Arnaldo Machado, 47 anos.

Ele precisou ser intubado às pressas e, depois, fazer uma traqueostomia, enquanto os médicos corriam contra o tempo para entender o que acontecia com ele.

Covid, tuberculose, pneumonia – tudo foi investigado até saberem que ele estava usando cigarro eletrônico e o diagnosticarem com evali (sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico).

“O problema é que o cigarro eletrônico ele forma um vapor, aquele vapor ele forma um óleo, esse óleo atinge os alvéolos pulmonares, forma uma espécie de uma graxa e impede a troca gasosa de oxigênio com CO2 e teu pulmão entra num colapso. E foi exatamente o que aconteceu comigo”, conta Arnaldo Machado, farmacêutico diagnosticado com evali.

 

20 cigarros convencionais

 

Um dos pontos que levam pessoas de forma rápida aos hospitais após o uso de cigarros eletrônicos é a quantidade de substâncias ingeridas.

Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), o vape tem maior índice de nicotina e, por isso, causa dependência mais rápido. Por exemplo, fumar uma carga de um cigarro eletrônico no formato de pen drive, pode equivaler a fumar 20 cigarros convencionais.

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Surto de doença no exterior e subnotificação no Brasil

 

A evali foi descrita na literatura médica pela primeira vez em 2019, nos Estados Unidos, quando pacientes jovens começaram a ser internados com falta de ar, tosse e dor no peito, náusea, vômito, diarreia, fadiga, febre e perda de peso.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) abriu uma investigação de emergência e descobriu que os pacientes tinham em comum o uso de cigarros eletrônicos. Foi então que a doença foi classificada. Até 2020, segundo o CDC, foram 2,7 mil pessoas internadas e 60 mortes registradas em decorrência do uso de vapes. Com a pandemia de Covid-19, no entanto, os casos deixaram de ser contabilizados.

 

O médico pneumatologista Felipe Marques, do hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, publicou um artigo sobre a doença após atender uma paciente com uma pneumonia que se repetia sem explicação até descobrir que se tratava de um caso de evali.

Ele explica que não há um exame específico e o diagnóstico precisa ser feito por exclusão e isso é um risco para o paciente.

O vape tem substâncias tóxicas que agridem nosso pulmão, então ele responde tentando evitar o agressor recrutando células do sistema imunológico que podem ‘machucar’ nosso sistema pulmonar causando lesões. Não temos como diagnosticar por exame, depende do paciente e às vezes eles não conseguem nos falar.
— Felipe Marques, médico pneumatologista.

No caso de Arnaldo, não foi ele quem contou aos médicos sobre o uso do vape, porque já estava sedado. Foi a esposa que levantou a questão do cigarro eletrônico e os médicos fecharam o diagnóstico. Ele conta que isso não foi citado antes porque, assim como ele, a família achou que o cigarro eletrônico era inofensivo à saúde.

A paciente de Marques teve duas pneumonias em um pequeno intervalo de tempo, com recuperação difícil. Na segunda internação, depois de uma série de exames negativos e já na UTI, ela comentou que usava cigarro eletrônico.

No caso dela, havia ainda um ponto específico que é o consumo de maconha por vaporização. Uma das substâncias presentes neste tipo de cigarro é o acetato de vitamina E — uma substância oleosa que gruda no tecido pulmonar. A substância tem sido uma das mais ligadas aos números de casos de evali, mas a hipótese de que só essa substância seja a causadora da doença ainda não foi validada.

No Brasil, há nove casos registrados de evali de 2019 a 2020, segundo a Anvisa, No entanto, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) alerta que a doença é subnotificada. Ou seja, há um número oficial de casos menor que a realidade. Isso porque, no país, a notificação de casos é voluntária e não compulsória – o que é uma demanda da classe médica para ter uma real dimensão do problema no país.

Especialistas unem forças contra a indústria

 

Com a rediscussão da proibição e o projeto de lei no Senado, a indústria do tabaco, que move US$ 1,4 milhões no Brasil, tem feito esforços pela liberação do cigarro eletrônico.

Os produtores argumentam que os vapes são contenção de danos para quem fuma cigarro convencional, com menos riscos e que a liberação é a única maneira de proibir que jovens e adolescentes consumam.

Por outro lado, entidades médicas e especialistas têm se unido para lutar contra a mudança e defendem que os argumentos da indústria não têm base científica.

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