A PF afirma que foram identificados pagamentos de vantagens ilícitas variáveis entre 5% e 25% dos valores dos contratos na área de assistência social, que totalizam mais de R$ 70 milhões. As investigações seguem em sigilo.

Durante as buscas, agentes encontraram R$ 128 mil e US$ 7,5 mil (total de R$ 160 mil) em espécie na casa de Sarciá. Também foram apreendidas diversas anotações e planilhas com nomes, valores e porcentagens. A defesa dele disse que o dinheiro está declarado na Receita.

De acordo com as investigações, a organização criminosa se infiltrou nos setores públicos assistenciais sociais do Estado do Rio. A PF afirmou que o grupo fraudou licitações e contratos administrativos, desviou verbas públicas e pagou de propina aos envolvidos nos esquemas criminosos.

Ainda segundo a PF, o grupo obteve vantagens econômicas e políticas indevidas, pois procurou direcionar a execução dos projetos sociais para seus redutos eleitorais, aproveitando-se também da população mais necessitada.

Estão sendo cumpridos três mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no município do Rio. Policiais federais cumprem ainda sete medidas de afastamento de sigilo bancário e fiscal e seis medidas de afastamento de sigilo telemático.

Procurada pelo GLOBO, a assessoria de imprensa do governador informou que operação “não traz nenhum novo elemento à investigação que já transcorre desde 2019”. A nota diz ainda que “o fato de haver medidas cautelares, quatro anos depois, reforça o que o governador Cláudio Castro vem dizendo há anos, ou seja, que não há nada contra ele, nenhuma prova, e que tudo se resume a uma delação criminosa, de um réu confesso, a qual vem sendo contestada judicialmente. Por fim, o governador reitera a confiança plena na justiça brasileira”.

Vinícius Sarciá é irmão de Caius Rocha. Os dois são irmãos de criação de Cláudio Castro. Em seu perfil no Instagram, Sarciá se apresenta como assessor especial do Governo do Estado, presidente do Conselho Administrativo da Agerio e administrador de empresas.

Em 2017, ano em que, segundo a PF, as supostas fraudes teriam começado a acontecer, Castro era vereador no município do Rio. Em 2018, concorreu como vice-governador do estado. Com o impeachment de Witzel, em 2021, assumiu o governo.

Allan Borges atuava como presidente da Fundação Leão XIII, entre janeiro de 2019 e maio de 2020, período investigado pela Polícia Federal na operação de hoje e, também, na Operação Catarata. A Fundação ficava sob a supervisão da vice-governadoria, comandada por Cláudio Castro.

Já o irmão de criação do governador, Vinícius Sarciá, em 2018, ajudou na campanha da chapa Wilson Witzel e Castro para o governo do Rio. E depois da eleição, foi nomeado como assessor de gabinete de Cláudio Castro. Sarciá também trabalhou para o então vereador Márcio Pacheco (PSC), para quem Castro atuou como chefe de Gabinete por 12 anos e chamava de ‘mentor intelectual’.

A subsecretária de Integração de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Governo, Astrid de Souza Brasil Nunes, foi nomeada ao cargo em maio deste ano. No ano passado, ela atuou como chefe de gabinete da Secretaria de Planejamento, sob o comando do secretário e advogado Adilson Faria Maciel, amigo de Castro. A mudança de cargo de Astrid aconteceu a pedido de Adilson.

A operação desta terça é um desdobramento da Operação Catarata, da Polícia Federal, que investiga o governador Cláudio Castro, uma suspeita de desvios de recursos de contratos da Fundação Leão XIII. O Governo do Estado sempre negou as acusações.

Em abril deste ano, o ministro do STJ Raul Araújo acolheu um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) que tramitava desde novembro do ano passado. A PGR pede que Castro seja investigado por seis crimes: organização criminosa, fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Segundo a PGR, os possíveis crimes teriam sido cometidos a partir de 2017, quando Castro ainda era vereador no Rio em primeiro mandato pelo PSC, e prosseguiram no período em que foi vice-governador.