Blog do Adilson Ribeiro

Campos – Quarta Feira – 19:40 – MPRJ denuncia 4 médicos por homicídio doloso; erro matou rapaz

Segundo o Ministério Público, suposto erro teria causado a morte de um rapaz em um hospital particular

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), por meio da 1ª e da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Campos, denunciou quatro médicos envolvidos na morte do jovem Fernando Iuri Chagas Rangel(19 anos), ocorrida em dezembro de 2013, resultante de complicações neurológicas decorrentes de anestesia em cirurgia eletiva. A acusação foi feita após término das investigações conduzidas diretamente pelos Promotores de Justiça. A mãe de Iuri, Fernanda Gomes Chagas, 45 anos, na foto acima com o filho, é funcionária da área administrativa da concessionária Águas do Paraíba, falou ao Campos 24 Horas como conseguiu as provas que serviram de base para que os médicos fossem denunciados por crime doloso. Na ocasião, Iuri servia ao Exército e sofreu um acidente de moto. Com fratura na clavícula, recebeu, inicialmente, atendimento no Hospital Ferreira Machado(HFM). Como ele tinha dois planos de saúde (um do Exército e outro da Unimed), foi transferido para um hospital da rede particular, onde foi submetido à uma cirurgia, durante a qual teve sérias complicações, resultando em óbito.

APURAÇÃO APONTA ERROS:
O cirurgião Paulo Cézar Mota da Rocha e o anestesista Luis Bernardo Vital Brasil Bogado foram denunciados por homicídio doloso e falsidade ideológica. O dolo eventual ficou caracterizado pelo fato de os dois terem assumido o risco da morte do rapaz, com a omissão de deveres de cuidado, ao injetarem pesadas drogas sem ofertar oxigênio suplementar e praticando cirurgias e anestesias simultâneas. Os médicos Rocklane Viana Areas e Hugo Manhães Areas foram denunciados por falsidade ideológica.

No dia do crime, Luis Bernardo aplicou forte medicação anestésica em Fernando Iuri, utilizando-se da associação de Inoval, Dormonid e Ketalar. De acordo com laudo pericial, os três medicamentos, so Writing Studio Bernardo Vital Brasil Bogado foram denunciados por homicídio doloso e falsidade ideológica. O dolo eventual ficou caracterizado pelo fato de os dois terem assumido o risco da morte do rapaz, com a omissão de deveres de cuidado, ao injetarem pesadas drogas sem ofertar oxigênio suplementar e praticando cirurgias e anestesias simultâneas. Os médicos Rocklane Viana Areas e Hugo Manhães Areas foram denunciados por falsidade ideológica.

No dia do crime, Luis Bernardo aplicou forte medicação anestésica em Fernando Iuri, utilizando-se da associação de Inoval, Dormonid e Ketalar. De acordo com laudo pericial, os três medicamentos, somados ao bloqueio de plexo, podem “causar depressão respiratória isoladamente”, resultando na “potencialização dos seus efeitos em razão da associação feita”, evoluindo-se para uma “parada cardíaca se não estivesse mantido vigilância constante”.

Vídeo integral da cirurgia revelou que, apesar da previsibilidade quanto à evolução e os efeitos dos remédios que aplicava, o anestesista não agiu de forma a conter os riscos mortais que decorreriam da depressão respiratória advinda da sua ação médica. Luis Bernardo manteve a vítima em respiração espontânea em ar ambiente, sem ofertar aporte suplementar de oxigênio e, principalmente, sem manter vigilância constante e permanente do seu paciente, conforme preconiza resoluções do Conselho Federal de Medicina.

As imagens revelam que, logo após aplicar a anestesia, Luis Bernardo abandonou a sala cirúrgica, deixando o paciente anestesiado sem qualquer acompanhamento ou providência paliativa. O livro de registros cirúrgicos da enfermagem e os prontuários de outros pacientes revelaram que, no dia do crime, Paulo Cézar e o anestesista programaram e realizaram diversas cirurgias e anestesias simultaneamente, o que é terminantemente proibido pelo CRM e pelo CFM.

“O risco de depressão respiratória não foi amenizado ou contido por nenhuma outra prática médica, demonstrando não se importar com a vida alheia e unicamente interessado no proveito financeiro das suas três anestesias simultâneas e particulares”, diz a denúncia referindo-se a Luis Bernardo.

Disparados os alarmes de anormalidades vitais no corpo do paciente, o que era revelado pelo sinais visuais e sonoros do monitor anestésico, Bernardo permaneceu alheio e indiferente ao quadro fisiológico que se instalava na vítima, ficando inerte por mais 6 minutos e 3 segundos, conforme verifica-se no vídeo.

“Não houve dúvidas, portanto, que o segundo denunciado deixou o paciente entregue à sorte divina, sem adotar providência ou ação, apesar de ser o único garantidor responsável pelo controle dos sinais vitais da vítima”, ressalta a denúncia. Ao todo, o anestesista se manteve fora da sala cirúrgica por mais de 36 minutos, dos 45 minutos de cirurgia, até soar os alarmes dos sinais vitais monitorados.

Paulo Cézar, por sua vez, era o titular e chefe da equipe cirúrgica, responsável exclusivo pela composição de sua equipe. Durante toda a cirurgia e todo o período que antecedeu a intervenção da equipe por ele chefiada, tinha pleno conhecimento de que o anestesista escolhido realizava três ou quatro anestesias simultâneas.

De acordo com a denúncia, Paulo decidiu assumir os riscos da sua omissão. Apesar de titular e chefe de uma equipe, também realizava cirurgias simultâneas, previamente agendadas e eletivas. Paulo deixou de suspender o ato ou de convocar o anestesista de plantão de forma a substituir o profissional de sua escolha, que insistia em se manter fora da sala cirúrgica.

As agendas das cirurgias, todas programadas e eletivas, registram que os dois médicos trabalharam em diferentes salas de cirurgia até as 20 h do dia do crime. Paulo realizou dez cirurgias; e Bernardo, dezoito. Ambos atuaram em várias cirurgias simultâneas, sem qualquer indicativo de urgência ou emergência. A realização de anestesias simultâneas é considerada prática atentatória à ética médica, por comprometer seriamente a segurança do paciente.

Ao final do procedimento, os dois escamotearam as informações reais do procedimento cirúrgico, registrando no prontuário médico dados e informações que não condiziam com a verdade. Junto com Paulo e Bernardo, os outros dois denunciados omitiram, no prontuário médico, declarações que dele deveriam constar.

“Igualmente inserindo declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito e alterar a verdade sobre fato médico e juridicamente relevante, em prejuízo da vítima Fernando Iuri Chagas Rangel, de seus familiares e dos órgãos técnicos de controle da atividade médica”, destaca a denúncia.

Enquanto o vídeo, depoimentos e laudos revelam que o Rocklane e Hugo funcionaram como cirurgião titular e cirurgião assistente, Paulo se coloca na posição de cirurgião titular e Rocklane na posição de cirurgião auxiliar, descrevendo aspectos da cirurgia que não condizem com o observado em vídeo.

O Campos 24 Horas tentou contato com os médicos suspeitos. Todavia, até esta publicação, não obteve retorno.

NOTA DO HOSPITAL DOUTOR BEDA
A respeito do paciente Fernando Iuri Chagas, em 2013, a direção do Hospital Dr. Beda esclarece que colaborou, em todos os níveis, no processo de investigação do fato. Até ontem, o Hospital Dr. Beda não havia recebido nenhum tipo de citação por parte do Ministério Público ou qualquer outro tipo de comunicado relacionado ao fato (A direção)

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Fonte:Ascom/MPRJ Writing Studio

2 comentários sobre “Campos – Quarta Feira – 19:40 – MPRJ denuncia 4 médicos por homicídio doloso; erro matou rapaz

  1. Mouraci Stephen Carecho

    MEUS PÊSAMES… ao promotor e à mãe.

    Já mencionei aqui nesse blog a respeito do Dr. Enis Donizetti do Hospital Sírio Libanês em São Paulo denunciando que mais de 40% das mortes em hospitais no Brasil se dão por erro médico dos mais variados tipos. Apesar do altíssimo índice, nossos tribunais somente em raríssimos os casos reconheceram a culpa médica, o que implica em chance zero de reconhecerem o dolo. Por mais robustas e contundentes que sejam as provas, os doutos julgadores fecham os olhos para a realidade e fica tudo por conta da tal “em decorrência de…” como se a culpa fosse exclusiva do paciente por não ter suportado as mazelas do doutor. Principalmente se o tal médico perito no processo for do quadro do TJ, aí que nem culpa mesmo reconhecem.
    Evidente que nenhum médico tem a intenção de matar o seu paciente. Por outro lado, é inegável também que a maioria dos médicos são profissionais que visam unicamente o seu bolso e por conta da ganância financeira e da fama, arriscam lances ousados como num empreendimento comercial qualquer. Na verdade, o paciente representa para um médico o que um pneu representa para o borracheiro.
    Se fizer uma enquete por aqui, vai aparecer pessoas de montão que tiveram suas vidas complicadas por negligência, imprudência e imperícia médica. Mas os nossos julgadores deixam a desejar e isso faz cair a qualidade dos serviços médicos em todos os cantos do país. E que ninguém ouse pretender excluir qualquer que seja o hospital desse conjunto porque em todos o serviço médico é extremamente caro e sem causa. Muito preço para pouca ou nenhuma qualidade. Máquinas sofisticadas e luxo não implicam em conhecimento científico na cabeça do profissional.
    Espero que essa reportagem alcance alguns operadores de área do direito e determinados julgadores para que percebam o papel medíocre a que servem, quando custeiam mensalmente caríssimos planos de saúde e não zelam pela qualidade do serviço médico na hora dos julgados.

  2. Mouraci Stephen Carecho

    Medidas de segurança do paciente têm resistência de médicos, diz anestesista
    RICADO MIOTO
    EDITOR-ADJUNTO DE “COTIDIANO”
    GABRIEL ALVES
    DE SÃO PAULO
    09/10/2015 02h00

    Mais opções
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    A alta mortalidade dos pacientes no país está relacionada com a grande quantidade de erros médicos –ou “eventos adversos”, no jargão–, diz o médico anestesista Enis Donizetti Silva, 55, presidente da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo.
    Enis aponta resistência dos médicos, tanto em na rede pública quando em hospitais de elite, a procedimentos padronizados e mesmo a medidas simples como lavar as mãos.
    Ele capitaneia a criação da Fundação para a Segurança do Paciente, que congrega várias entidades médicas e será lançada em novembro.
    Eduardo Anizelli/Folhapress

    O anestesista Enis Donizetti Silva, que diz que até hospitais de elite sofrem com erros médicos
    *
    Folha – Por que uma fundação pela segurança do paciente?
    Enis Donizetti Silva – Se você ficar internado uma semana em um hospital brasileiro, é muito grande a chance de acontecer algo errado com a sua medicação. Dose errada, hora errada, paciente errado, medicação errada. São quase 40% de eventos adversos nos hospitais brasileiros, contra 15% em outros países.

    Como se faz essa conta?

    Contamos todo mundo que entra no hospital. Isso é o que consideramos 100%. De todos esses pacientes, no Brasil, quase 40% tiveram eventos adversos.

    O que são eventos adversos?

    É o que antigamente chamávamos de erro médico: tudo que sai fora do padrão estabelecido de diagnóstico ou tratamento e trouxe algum dano ao paciente.

    Mas convenhamos que, a 40%, a mensagem é que é melhor ficar em casa…

    Sem dúvida. Há alguns caminhos para reduzir isso, como checklists. É como quando um avião vai voar. Combustível? Instrumentos de voo? Na medicina é a mesma coisa. É este o paciente mesmo? É esta a perna certa? Mas poucos hospitais brasileiros fazem checklists. Em geral, só os que procuram ter acreditação [certificações internacionais de qualidade].

    Mas há também uma resistência altíssima dos médicos ao checklist, não?

    Muito grande. Total.
    Até porque em geral ele não é comandado pelo médico.
    É o enfermeiro, o técnico.

    Então isso significa uma perda de poder do médico.

    Sim. Quando você implanta uma cultura de segurança, você dá poder ao lado mais fraco: técnicos, enfermeiros, fisioterapeutas. O médico vai perder aquela aura. E isso tem de ser ensinado desde a faculdade. Porque o que ensinam hoje é que eu vou lá, examino, faço diagnóstico, estabeleço o tratamento e… dou uma ordem para a enfermeira.

    Muitos médicos dizem que realizar checklists é burocratizar a medicina.

    Depois que uma cultura está estabelecida, é difícil mudá-la. Ainda temos muitos problemas com médicos que não lavam a mão. Mas veja: na faculdade, não há aulas sobre a importância da lavagem. Resultado: mais de 90% dos casos de infecções de corrente sanguínea e infecção associada a cateter estão associadas a isso…

    Quando surgiram as acreditações, elas eram tratadas jocosamente. “Vou preencher a burocracia.” Médicos são às vezes um entrave a mudanças importantes.

    É importante, por exemplo que os dados do paciente sejam anotados em um sistema eletrônico. Assim não vou injetar dipirona no paciente alérgico porque esqueci, porque não estava na minha ficha, porque a caligrafia do outro era incompreensível.

    Se temos tantos problemas de procedimento, parece um tanto claro que despejar dinheiro em hospitais com procedimentos falhos não vai resolver o problema.

    Só vai piorar. O grande problema de eventos adversos não é falta de infraestrutura. É o processo. E olha que nossa média já é muito alta: a mortalidade hospitalar do SUS na modalidade cirúrgica é de 3,72%. Em outros países, esse valor é de 0,5%.

    Sem falar no altíssimo tempo de internação. Não adianta eu recuperar sua pneumonia mas deixar você 27 dias no hospital, porque eu causei um monte de eventos adversos. Pacientes que deixamos duas semanas internados ficam só quatro dias no hospital no exterior. Isso cria filas enormes no sistema de saúde. Um paciente ocupa o lugar de cinco. Sem falar no risco de, lá pelo décimo dia de internação, alguém errar o seu remédio…

    Além do checklist, o que mais pode ser feito?

    Um estudo clássico americano mostrou que a taxa de mortalidade em cirurgia cardíaca feita em um hospital que fazia o procedimento 30 vezes por ano era de 27%. Em um hospital que operava 10 mil doentes por ano, 6%.
    Por que isso acontece? Quando você faz um volume grande, começa a estabelecer algo como uma linha de produção: cria procedimentos, estabelece padrões. Desse modo, hospitais abaixo de cem leitos começaram a ser questionados e fechados nos EUA.

    Mas sabe quantos leitos têm a maior parte dos hospitais brasileiros?
    Uns 50, menos. A incidência de complicações é altíssima, porque o médico vai fazer um determinado tipo de cirurgia só uma ou duas vezes por ano.

    Fechar hospitais pequenos é uma bandeira um tanto ingrata… Fico imaginando que político vai querer falar isso na cidadezinha do interior.

    É terrível. O que se pode fazer é criar níveis de cuidado, deixando tais hospitais com procedimentos mais simples.

    Outra dificuldade política é apontar problemas de gestão de processos no SUS. Uma ala dos especialistas defende que isso é um jeito de desviar o foco do financiamento.

    Pois é. Minha bandeira é esfarrapada, o mastro é fraco e o vento é forte. O que tem de bonito nos processos? Nada. Não há glamour. Não estou falando em tratamento nos melhores lugares. Não estou falando em transporte de helicóptero, de jato, em superUTI. O que digo é justamente que o helicóptero, o jato, a superUTI podem contribuir enormemente mal para sua saúde.

    Mas é difícil. Porque o que todo mundo quer é ter o plano top da Omint, da SulAmérica. Mas às vezes não é isso.
    Nesse sentido, como é a situação da segurança do paciente em hospitais como o Sírio-Libanês ou o Einstein?

    Parece que mesmo eles têm problemas.

    Eles vão bem na maior parte dos indicadores, até porque eles têm uma marca a proteger, mas há várias falhas, e eles sabem que há problemas graves. Uma questão é a própria lavagem das mãos.

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