Blog do Adilson Ribeiro

Sábado – 20:10 – Odisseia Carvalho: solução para Campos não cairá do céu. Veja Abaixo:

Candidata do Partido dos Trabalhadores à Prefeitura de Campos, Odisseia falou que parte da solução para a queda de arrecadação parte do enxugamento da máquina pública sem mexer nos servidores públicos, com redução de DAS, cargos de confianças e de secretarias, mas admitiu que “nenhuma solução cai do céu”. “A situação de Campos necessita de estudo, seriedade e geração de renda. Precisamos gerar empregos, atrair mais investimentos para o nosso município, incentivar e criar um turismo através das belezas pouco exploradas de Campos”, afirmou a prefeitável. A sindicalista criticou as últimas gestões e a administração dos recursos dos royalties do petróleo: “os governos passados foram irresponsáveis e inconsequentes ao não criarem um fundo de reserva para o futuro quando não obtivermos mais os royalties. Fica claro também que muitos governos não sabem administrar o nosso município sem o repasse de royalties”.
Numericamente atrás de Professora Natália (Psol), que disputa sua primeira eleição, na pesquisa do instituto Paraná, Odisseia disse que vê como saudável o surgimento de novas lideranças na esquerda e que chegou a conversar com Psol e PCdoB para uma eventual composição, mas que não houve diálogo com o PDT de Caio Vianna. Professora e servidora pública, a candidata elogiou a implantação das escolas em tempo integral, mas criticou o prefeito Rafael Diniz por causa dos problemas físicos e falta de condições para melhora do ensino. Sobre a pandemia de Covid-19, a petista disse que Rafael tomou atitudes rápidas, mas que se precipitou na reabertura do comércio e classificou como “caos” a situação da Saúde na cidade: “A Saúde hoje realmente vive um momento de caos total, de completo descaso. Em todos os setores, precisamos, primeiramente, valorizar o trabalhador e dar condições dignas para o trabalho”.

Folha da Manhã – O governo Rafael Diniz projetou o orçamento de Campos para 2021 em 1,7 bilhão. Na série de painéis sobre a crise financeira do município, o economista Alcimar Chagas, professor da Uenf, projetou em R$ 1,5 bilhão. Que foi considerado “otimista” pelo economista Roberto Rosendo, diretor da UFF-Campos. O fato é que R$ 1,1 bilhão já está comprometido com folha de pagamento e a despesa total foi orçada pela Fazenda em R$ 2 bilhões. Como fechar a conta?
Odisseia – Existem hoje diversas formas de parcerias em que os governos municipais podem fazer com o governo estadual, nacional e até iniciativas internacionais, porém, essas formas são pouco abordadas pelos governantes pelo simples fato de que a prestação de contas deve ser feita de forma detalhada e sem desvios. Nosso intuito é firmar essas parcerias e, assim, fazendo o orçamento de Campos fechar sem nenhum prejuízo para os cofres públicos e para os campistas.
Folha – Na mesma série da Folha sobre a crise financeira, na qual foram ouvidos 34 representantes da sociedade civil organizada, entre professores e gestores universitários, juristas, empresários, sindicalistas e servidores, vários deles foram categóricos ao afirmar que não há solução mágica para Campos. E que quem disser o contrário nas eleições estaria mentindo. Concorda? Qual a sua proposta de solução real e verdadeira?
Odisseia – Concordo plenamente. Enquanto professora e sindicalista sei que nenhuma solução “cai do céu” ou possui uma “solução mágica”. A situação de Campos necessita de estudo, seriedade e geração de renda. Precisamos gerar empregos, atrair mais investimentos para o nosso município, incentivar e criar um turismo através das belezas pouco exploradas de Campos.
Folha – Reitor da Uenf, o professor Raul Palacio tem batido sempre na tecla da necessidade de um pacto entre o vencedor da eleição a prefeito com todos os segmentos da sociedade. No que foi endossado por vários outros atores entrevistados na série de painéis da Folha. Em que termos esse pacto teria que ser firmado? Como quem governará o conjunto da cidade teria que equilibrar os interesses muitas vezes conflitantes dos segmentos envolvidos?
Odisseia – Nosso intuito ao assumir a Prefeitura, não é governar para o povo e sim governar com a população campista. Sendo assim, nós escutaremos e iremos trabalhar para que o bem-estar de todas e todos moradores de Campos seja devidamente atendido. Não deve existir um pacto entre a Prefeitura e os segmentos da sociedade, devemos ter pleno dialogo e acordos para que possamos melhorar a nossa cidade e não somente prometer.
Folha – Entre várias discordâncias, a parceria com polo universitário, a adoção integral do pregão eletrônico nas compras do município e a retomada da sua vocação agropecuária foram apontadas como alternativas unânimes para sair da crise. Concorda? Teria mais alguma opção? Por que o pregão integral não foi até hoje adotado e a agropecuária, nosso eixo econômico desde o séc. 17, foi deixada de lado a partir dos anos 1990, ao ser substituída pelo petróleo?
Odisseia – Não acredito que seja as únicas alternativas para o nosso município. Acredito, sim, ser fundamentar ter a parceria com as universidades, possuir pregões eletrônicos e retomarmos com a agropecuária, mas podemos ir além. Como já dito uma opção interessante é explorarmos o turismo. Campos possui belezas únicas, as quais nunca obtiveram investimentos. Podemos gerar mais empregos e a economia local se movimentar. Sobre o motivo de até hoje os pregões integrais não terem sido instituídos em Campos, fica claro que foi uma opção dos antigos governos e de suas avaliações sobre como administrar o município. Também fica claro que não podemos deixar de termos apenas uma economia, foi um erro dos empresários e governantes deixarem de investir na agropecuária e agricultura. No nosso governo vamos incentivar a promoção destas formas de economia.
Folha – Corrigido pelo INPC, de 1999 a 2019, Campos recebeu R$ 25,51 bilhões de royalties e Participações Especiais (PEs). Até 2016, foram R$ 23,67 bilhões, média de quase R$ 1,4 bilhão/ano. Que caiu a R$ 0,56 bilhão de média/ano, com o R$ 1,7 bilhão de 2017 a 2019 e um inédito R$ 0,00 de PE em agosto de 2020. Nesta semana, o presidente do STF, Luiz Fux, adiou o julgamento sobre a redistribuição dos royalties. Qual o saldo desses recursos?
Odisseia – Essa pergunta deixa claro o quanto os governos passados foram irresponsáveis e inconsequentes ao não criarem um fundo de reserva para o futuro quando não obtivermos mais os royalties. Fica claro também que muitos governos não sabem administrar o nosso município sem o repasse de royalties. Nós pensamos além, sabemos que existem outras opções de gerar mais recursos, como já citado, as parcerias e também através da moeda social local. O julgamento foi retirado da pauta do dia 3 de dezembro, uma ótima notícia para os municípios do Rio de Janeiro.
Folha – Em entrevista ao Folha no Ar, na Folha FM, a candidata Professora Natália (Psol) disse ser “importante nacionalizar o debate nas eleições municipais”. Na sua propaganda eleitoral são constantes as aparições do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o exemplo do “Fla-Flu” que se tornou o debate político em 2018, essa nacionalização do pleito local pode atrapalhar no foco dos problemas da cidade?
Odisseia – Concordo com a afirmação de que é preciso nacionalizar o debate até porque todos os candidatos o fazem em algum momento. É preciso lembrar, até o ano de 2016 Campos figurava com a nona cidade mais rica do país. Muito embora não sejamos geograficamente capital do Estado, a influência política e social que Campos oferece para os municípios desde o Norte e Noroeste Fluminense ao Sul Capixaba é expressiva. Por essa razão, Campos merece que seus debates regionais sejam tratados, também, sob a luz da política nacional, pois além da influência do presidente da República, nossa cidade, até poucos dias, tinha dois deputados federais (Wladimir Garotinho e Marcão Gomes). Muito de fato é competência da prefeitura, mas principalmente nesse momento de orçamento deficitário, parcerias com o governo federal e seus legisladores são muito importantes para o município se manter forte. Isto não é endossar a política que o mesmo governo toca de forma geral, mas é preciso que todos façam os seus respectivos trabalhos em prol do cidadão.
Folha – Na pesquisa divulgada pelo instituto Paraná, na última semana, a Professora Natália aparece com 3,4% das intenções de votos em sua primeira disputa eleitoral, enquanto você somou 3%. Como você vê o surgimento de uma nova força política da esquerda em Campos? O Psol pode ameaçar de alguma forma o PT na cidade como já fez no Rio de Janeiro?
Odisseia – Primeiro, há de se ressaltar que em nenhum momento candidaturas de esquerda são ameaças para nós do PT. Podemos ter divergências de projetos e ação política, mas eu e os militantes do PT dividimos a luta em Campos há anos com Professora Natália e os militantes do Psol e de outros partidos políticos. Uma nova força de esquerda em Campos é, além de saudável para a democracia, saudável para o próprio campo da esquerda política, que enfrenta um período de renovação de quadros e ideias. Para nós do PT, são essas ideias que, renovadas pelo debate e pela construção coletiva, podem fazer com que a esquerda ganhe mais espaços numa cidade tão marcada por estas mesmas famílias.
Folha – Além de você e de Natália, o PCdoB, com o ex-deputado estadual Roberto Henriques, completa a trinca de candidaturas da esquerda neste ano, além de Caio Vianna (PDT), de centro-esquerda. Em 2016, o PT caminhou com o pedetista na eleição municipal. Houve alguma conversa com os outros três candidatos para uma tentativa de composição?
Odisseia – Exceto com o PDT, houve conversas para a construção de uma frente ampla de esquerda do município e cada partido avaliou internamente pelo lançamento de sua própria chapa na disputa.
Folha – O PT não tem representantes na Câmara de Campos. Você esteve lá e o último eleito pelo partido, em 2012, foi Marcão. Em 2016, o mais votado do PT foi o professor Alexandre Lourenço, hoje PDT. Qual a projeção do PT quanto ao número de cadeiras?
Odisseia – O PT tem o objetivo claro de retornar a Câmara de Vereadores com pelo menos uma cadeira e se preparou, além da disputa na majoritária, para uma eleição mais complexa e muito diferente das anteriores pelo fim das coligações proporcionais.
Folha – Jair Bolsonaro foi eleito presidente com 64,87% dos votos no município no 2º turno de 2018. Você acha que Campos é uma cidade conservadora? Quais os principais desafios da esquerda para tentar driblar esse cenário que se repetiu na grande maioria das cidades do Estado do Rio de Janeiro na última eleição nacional e estadual?
Odisseia – Jair Messias Bolsonaro, atualmente sem partido, elegeu-se em uma conjuntura muito específica, não só de retrocesso da esquerda no Brasil, mas na América Latina e no mundo. Além disto, sua campanha com base em uso de grupos de WhatsApp e histórias sobre kit gay e outras não foi devidamente apura pelo TSE. A facada também colabora para construção da ideia de um líder carismático que sofreu “um atentado”. Sem ir aos debates e aproveitando a era da pós-verdade, foi eleito em um cenário de muitos votos brancos e nulos. Campos é uma cidade conservadora, mas que pode calcular a própria perda de sua importância política no cenário estadual e a erosão das condições de vida com os grandes empreendimentos encolhendo ou sendo fatiados, como é o caso do Porto do Açu, que não produziu os posto de trabalho prometidos, além da Bacia de Campos. Nossa opção reflete um compromisso de crescimento, de retomada para uma outra cidade. Mais aberta, mais inclusiva e moderna. A falência das elites na cidade ainda pode ser sentida em certa saudade do passado. Nossa proposta é olhar para frente. O conservadorismo não serve em uma perspectiva de necessária mudança. Para atrair investimento em cultura, turismo, educação, inovação, a cidade precisa abrir-se ao século XXI e as mentalidades também.
Folha – A Saúde Pública parece ser o calcanhar de Aquiles de todas as administrações, em todas as esferas, há muitos anos. Campos é um polo regional e não faltam relatos de problemas nas unidades do município. Que ainda coleciona uma dívida, desde a administração passada, com os hospitais contratualizados. O que propõe de concreto ao setor? Especificamente sobre o enfrentamento à pandemia de Covid-19, como classifica a atuação do município?
Odisseia – A saúde hoje realmente vive um momento de caos total, de completo descaso. Em todos os setores, precisamos, primeiramente, valorizar o trabalhador e dar condições dignas para o trabalho. Nos nossos hospitais essas medidas são ainda mais urgentes, pois estamos tratando de vidas e famílias diretamente afetadas pelo trabalho diário de exposição à Covid-19. Propomos, além da inclusão dos servidores públicos no plano de cargos e salários, a contratação de mais profissionais mediante o enxugamento da máquina pública que pretendemos fazer; retomar de forma localizada a Estratégia de Saúde da Família; reabrir as Unidades Básicas de Saúde e realizar melhorias em sua estrutura, investindo na prevenção e no tratamento de triagem nos bairros, deixando de sobrecarregar os hospitais centrais, entre tantos outros projetos que temos. Sobre a Covid-19, o prefeito Rafael Diniz foi coerente ao aplicar medidas de distanciamento no início, mas muito irresponsável na abertura do comércio – que consideramos prematura – no retorno às fases amarela e verde, permitindo que shows, bares e algumas festas ocorressem. Estudiosos apontam a chegada de uma segunda onda, pois nossa sociedade ainda não compreendeu como de fato lidar com a doença mortal que nos assola. As administrações públicas cederam a muitas pressões para que as famílias não permanecessem em casa. Ainda assim, Campos manteve uma média móvel de casos baixa por muitos meses e entrou em tendência decrescente no número de casos antes de cidades importantes.
Folha – A avaliação de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não vinha sendo dos melhores. Neste ano, pelo que a Prefeitura classificou como “falha humana”, o município ficou sem nota por não enviar os dados. Por outro lado, a implantação do Centro Municipal de Educação Integral (Cemei) é visto como um ponto positivo. Qual a sua nota para a Educação de Campos? Se eleito, pretende dar continuidade ao Cemei?
Odisseia – Sou educadora a mais de 30 anos e sei quais são exatamente as falhas, problemas, coisas que não dão certo na educação da cidade, mas também sei quais são as possíveis soluções. A nota do Ideb baixa nos últimos anos só mostra que, independente das famílias que ocupam o poder, os alunos nunca são priorizados e precisamos mudar isso. Sobre o Cemei, o projeto de escola integral é sinônimo de sucesso educacional em todo o mundo. Entretanto, até nos bons projetos a execução de Rafael Diniz foi ruim, deixando escolas sem insumos, com a infraestrutura comprometida. Precisamos valorizar os profissionais da educação, lhes oferecendo condições dignas de trabalho e universalizarmos pela cidade as escolas em tempo integral, alem de corrigir os problemas nas escolas já existentes, pois, para seguir investindo e avançando é preciso que a qualidade chegue a todos.
Folha – Programas sociais, entre eles o Cheque Cidadão, alvo da operação Chequinho no governo Rosinha Garotinho (hoje, Pros), a Passagem Social e o Restaurante Popular foram cortados na gestão Rafael pela queda de arrecadação. Com o atual cenário financeiro, sem nenhuma perspectiva de melhora a curto prazo, é possível planejar a retomada desses programas?
Odisseia – O interessante é que nesta insistência sobre a dificuldade de retomada dos programas sociais, não olhamos para os gastos da Prefeitura com comuniçação e outras áreas que seguramente dariam conta dos custos do Restaurante Popular. À época, no projeto apresentado por Sana Gimenez, havia uma proposta de reaproveitar o alimento que não poderia ser vendido por uma das maiores redes de supermercado da cidade. E se tivermos mais servidores concursados, certamente eles poderão trabalhar no preparo dos alimentos. Se foi possível que os movimentos sociais locais vendessem uma refeição por R$ 1 e alimentassem mais de 300 pessoas em um dia, por que não seria possível reabrir o restaurante? Sobre o Chequinho, a questão central aqui é a retomada de uma renda mínima universal que possa mitigar a fome das 45 mil famílias em situação de extrema pobreza. Um debate presente em vários meios de comunicação na cidade. Fundamental para entender que não é aceitável em uma cidade como esta, que tantas pessoas passem fome. O transporte pode ser feito como já ocorre em outras cidades, com energia alternativa. Tudo isto é uma questão de gestão e não apenas de receita. A insistência em políticas econômicas de austeridade não serve a população de Campos.
Folha – O transporte público é outro serviço contestado. Qual a sua opinião sobre o sistema tronco-alimentador? Caso pretenda mudá-lo, como e o que faria? Você é favorável à volta das vans na área central, que sempre geraram reclamações? O transporte clandestino foi combatido pelo governo Rafael, que teve integrantes ameaçados de morte. Em seu governo, o Centro seria de novo dominado por vans e lotadas?
Odisseia – Em cidades desenvolvidas e com programas eficientes de mobilidade urbana os locais de maior circulação de pessoas não são povoados nem por ônibus e nem por vans em demasia, e sim por modelos alternativos e sustentáveis de transportes públicos que se conversam. No nosso plano de governo, começaremos por acabar com o atual modelo de organização de linhas dos ônibus. É possível aproveitar os terminais, mas é necessário a criação de outros e com estruturas decentes de acomodação dos passageiros. Com a implantação da Empresa Pública de Transportes, é possível aumentar o número de ônibus nos bairros. Adaptando linhas para penetrar mais bairros, os trajetos ficam mais acessíveis aos moradores. As vans poderão cobrir trajetos longos, mas também é importante que entrem nos bairros, complementando o serviço dos ônibus. Com todas essas medidas, é possível fazer com que o tempo de espera diminua, o trânsito fique mais harmônico e o centro possa privilegiar veículos de pequeno porte, como bicicletas. Queremos incentivar o ciclismo, reformando as ciclofaixas e permitindo um tráfego que possa diminuir e escoar o tráfego de carros de passeio, ônibus e lotadas no centro da cidade, além de ser uma solução sustentável.
Folha – Segurança pública é dever do Estado, mas cada vez mais estão sendo traçadas ações conjuntas com os municípios. Em Campos, por exemplo, a mais recente foi a instalação do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Atual secretário de Segurança Pública, Darcileu Amaral defende que a Guarda Civil seja armada. Como você avalia essa opinião e a atual política municipal na Segurança? E qual a sua pr Writing Studio incipalmente nesse momento de orçamento deficitário, parcerias com o governo federal e seus legisladores são muito importantes para o município se manter forte. Isto não é endossar a política que o mesmo governo toca de forma geral, mas é preciso que todos façam os seus respectivos trabalhos em prol do cidadão.
Folha – Na pesquisa divulgada pelo instituto Paraná, na última semana, a Professora Natália aparece com 3,4% das intenções de votos em sua primeira disputa eleitoral, enquanto você somou 3%. Como você vê o surgimento de uma nova força política da esquerda em Campos? O Psol pode ameaçar de alguma forma o PT na cidade como já fez no Rio de Janeiro?
Odisseia – Primeiro, há de se ressaltar que em nenhum momento candidaturas de esquerda são ameaças para nós do PT. Podemos ter divergências de projetos e ação política, mas eu e os militantes do PT dividimos a luta em Campos há anos com Professora Natália e os militantes do Psol e de outros partidos políticos. Uma nova força de esquerda em Campos é, além de saudável para a democracia, saudável para o próprio campo da esquerda política, que enfrenta um período de renovação de quadros e ideias. Para nós do PT, são essas ideias que, renovadas pelo debate e pela construção coletiva, podem fazer com que a esquerda ganhe mais espaços numa cidade tão marcada por estas mesmas famílias.
Folha – Além de você e de Natália, o PCdoB, com o ex-deputado estadual Roberto Henriques, completa a trinca de candidaturas da esquerda neste ano, além de Caio Vianna (PDT), de centro-esquerda. Em 2016, o PT caminhou com o pedetista na eleição municipal. Houve alguma conversa com os outros três candidatos para uma tentativa de composição?
Odisseia – Exceto com o PDT, houve conversas para a construção de uma frente ampla de esquerda do município e cada partido avaliou internamente pelo lançamento de sua própria chapa na disputa.
Folha – O PT não tem representantes na Câmara de Campos. Você esteve lá e o último eleito pelo partido, em 2012, foi Marcão. Em 2016, o mais votado do PT foi o professor Alexandre Lourenço, hoje PDT. Qual a projeção do PT quanto ao número de cadeiras?
Odisseia – O PT tem o objetivo claro de retornar a Câmara de Vereadores com pelo menos uma cadeira e se preparou, além da disputa na majoritária, para uma eleição mais complexa e muito diferente das anteriores pelo fim das coligações proporcionais.
Folha – Jair Bolsonaro foi eleito presidente com 64,87% dos votos no município no 2º turno de 2018. Você acha que Campos é uma cidade conservadora? Quais os principais desafios da esquerda para tentar driblar esse cenário que se repetiu na grande maioria das cidades do Estado do Rio de Janeiro na última eleição nacional e estadual?
Odisseia – Jair Messias Bolsonaro, atualmente sem partido, elegeu-se em uma conjuntura muito específica, não só de retrocesso da esquerda no Brasil, mas na América Latina e no mundo. Além disto, sua campanha com base em uso de grupos de WhatsApp e histórias sobre kit gay e outras não foi devidamente apura pelo TSE. A facada também colabora para construção da ideia de um líder carismático que sofreu “um atentado”. Sem ir aos debates e aproveitando a era da pós-verdade, foi eleito em um cenário de muitos votos brancos e nulos. Campos é uma cidade conservadora, mas que pode calcular a própria perda de sua importância política no cenário estadual e a erosão das condições de vida com os grandes empreendimentos encolhendo ou sendo fatiados, como é o caso do Porto do Açu, que não produziu os posto de trabalho prometidos, além da Bacia de Campos. Nossa opção reflete um compromisso de crescimento, de retomada para uma outra cidade. Mais aberta, mais inclusiva e moderna. A falência das elites na cidade ainda pode ser sentida em certa saudade do passado. Nossa proposta é olhar para frente. O conservadorismo não serve em uma perspectiva de necessária mudança. Para atrair investimento em cultura, turismo, educação, inovação, a cidade precisa abrir-se ao século XXI e as mentalidades também.
Folha – A Saúde Pública parece ser o calcanhar de Aquiles de todas as administrações, em todas as esferas, há muitos anos. Campos é um polo regional e não faltam relatos de problemas nas unidades do município. Que ainda coleciona uma dívida, desde a administração passada, com os hospitais contratualizados. O que propõe de concreto ao setor? Especificamente sobre o enfrentamento à pandemia de Covid-19, como classifica a atuação do município?
Odisseia – A saúde hoje realmente vive um momento de caos total, de completo descaso. Em todos os setores, precisamos, primeiramente, valorizar o trabalhador e dar condições dignas para o trabalho. Nos nossos hospitais essas medidas são ainda mais urgentes, pois estamos tratando de vidas e famílias diretamente afetadas pelo trabalho diário de exposição à Covid-19. Propomos, além da inclusão dos servidores públicos no plano de cargos e salários, a contratação de mais profissionais mediante o enxugamento da máquina pública que pretendemos fazer; retomar de forma localizada a Estratégia de Saúde da Família; reabrir as Unidades Básicas de Saúde e realizar melhorias em sua estrutura, investindo na prevenção e no tratamento de triagem nos bairros, deixando de sobrecarregar os hospitais centrais, entre tantos outros projetos que temos. Sobre a Covid-19, o prefeito Rafael Diniz foi coerente ao aplicar medidas de distanciamento no início, mas muito irresponsável na abertura do comércio – que consideramos prematura – no retorno às fases amarela e verde, permitindo que shows, bares e algumas festas ocorressem. Estudiosos apontam a chegada de uma segunda onda, pois nossa sociedade ainda não compreendeu como de fato lidar com a doença mortal que nos assola. As administrações públicas cederam a muitas pressões para que as famílias não permanecessem em casa. Ainda assim, Campos manteve uma média móvel de casos baixa por muitos meses e entrou em tendência decrescente no número de casos antes de cidades importantes.
Folha – A avaliação de Campos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) não vinha sendo dos melhores. Neste ano, pelo que a Prefeitura classificou como “falha humana”, o município ficou sem nota por não enviar os dados. Por outro lado, a implantação do Centro Municipal de Educação Integral (Cemei) é visto como um ponto positivo. Qual a sua nota para a Educação de Campos? Se eleito, pretende dar continuidade ao Cemei?
Odisseia – Sou educadora a mais de 30 anos e sei quais são exatamente as falhas, problemas, coisas que não dão certo na educação da cidade, mas também sei quais são as possíveis soluções. A nota do Ideb baixa nos últimos anos só mostra que, independente das famílias que ocupam o poder, os alunos nunca são priorizados e precisamos mudar isso. Sobre o Cemei, o projeto de escola integral é sinônimo de sucesso educacional em todo o mundo. Entretanto, até nos bons projetos a execução de Rafael Diniz foi ruim, deixando escolas sem insumos, com a infraestrutura comprometida. Precisamos valorizar os profissionais da educação, lhes oferecendo condições dignas de trabalho e universalizarmos pela cidade as escolas em tempo integral, alem de corrigir os problemas nas escolas já existentes, pois, para seguir investindo e avançando é preciso que a qualidade chegue a todos.
Folha – Programas sociais, entre eles o Cheque Cidadão, alvo da operação Chequinho no governo Rosinha Garotinho (hoje, Pros), a Passagem Social e o Restaurante Popular foram cortados na gestão Rafael pela queda de arrecadação. Com o atual cenário financeiro, sem nenhuma perspectiva de melhora a curto prazo, é possível planejar a retomada desses programas?
Odisseia – O interessante é que nesta insistência sobre a dificuldade de retomada dos programas sociais, não olhamos para os gastos da Prefeitura com comuniçação e outras áreas que seguramente dariam conta dos custos do Restaurante Popular. À época, no projeto apresentado por Sana Gimenez, havia uma proposta de reaproveitar o alimento que não poderia ser vendido por uma das maiores redes de supermercado da cidade. E se tivermos mais servidores concursados, certamente eles poderão trabalhar no preparo dos alimentos. Se foi possível que os movimentos sociais locais vendessem uma refeição por R$ 1 e alimentassem mais de 300 pessoas em um dia, por que não seria possível reabrir o restaurante? Sobre o Chequinho, a questão central aqui é a retomada de uma renda mínima universal que possa mitigar a fome das 45 mil famílias em situação de extrema pobreza. Um debate presente em vários meios de comunicação na cidade. Fundamental para entender que não é aceitável em uma cidade como esta, que tantas pessoas passem fome. O transporte pode ser feito como já ocorre em outras cidades, com energia alternativa. Tudo isto é uma questão de gestão e não apenas de receita. A insistência em políticas econômicas de austeridade não serve a população de Campos.
Folha – O transporte público é outro serviço contestado. Qual a sua opinião sobre o sistema tronco-alimentador? Caso pretenda mudá-lo, como e o que faria? Você é favorável à volta das vans na área central, que sempre geraram reclamações? O transporte clandestino foi combatido pelo governo Rafael, que teve integrantes ameaçados de morte. Em seu governo, o Centro seria de novo dominado por vans e lotadas?
Odisseia – Em cidades desenvolvidas e com programas eficientes de mobilidade urbana os locais de maior circulação de pessoas não são povoados nem por ônibus e nem por vans em demasia, e sim por modelos alternativos e sustentáveis de transportes públicos que se conversam. No nosso plano de governo, começaremos por acabar com o atual modelo de organização de linhas dos ônibus. É possível aproveitar os terminais, mas é necessário a criação de outros e com estruturas decentes de acomodação dos passageiros. Com a implantação da Empresa Pública de Transportes, é possível aumentar o número de ônibus nos bairros. Adaptando linhas para penetrar mais bairros, os trajetos ficam mais acessíveis aos moradores. As vans poderão cobrir trajetos longos, mas também é importante que entrem nos bairros, complementando o serviço dos ônibus. Com todas essas medidas, é possível fazer com que o tempo de espera diminua, o trânsito fique mais harmônico e o centro possa privilegiar veículos de pequeno porte, como bicicletas. Queremos incentivar o ciclismo, reformando as ciclofaixas e permitindo um tráfego que possa diminuir e escoar o tráfego de carros de passeio, ônibus e lotadas no centro da cidade, além de ser uma solução sustentável.
Folha – Segurança pública é dever do Estado, mas cada vez mais estão sendo traçadas ações conjuntas com os municípios. Em Campos, por exemplo, a mais recente foi a instalação do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Atual secretário de Segurança Pública, Darcileu Amaral defende que a Guarda Civil seja armada. Como você avalia essa opinião e a atual política municipal na Segurança? E qual a sua proposta?
Odisseia – A grande questão sobre segurança pública diz respeito ao município, sim. É necessário que possamos ouvir a sociedade civil e não apenas o Estado. Temos um grupo importante de pesquisa na Uenf. O Núcleo Cidade Cultura e Conflito que produz estudos sobre milícia, uso de armas, juventude e espaço social, racismo e Judiciário. Estas pesquisas, feitas por estudantes, docentes, policiais, advogados, é essencial para compreensão de como as instituições policiais (ou não) devem integrar a segurança. Devemos ouvir a Guarda e seus anseios. A discussão do porte de armas pela Guarda deve ser feita com muito critério, pois no momento que estes guardas tiverem armas, sem o treinamento dispensado aos policiais militares, eles também serão alvo de possíveis violências. Precisamos, sobretudo, atuar de forma coordenada e possibilitar as condições de trabalho e informação aos agentes do Estado (policiais civis e militares, guardas municipais). A Guarda, por exemplo, pode exercer um papel definitivo na educação de trânsito, bem como na relação escola/ cidade. Nossa proposta é manter uma grande Conferência Municipal anual sobre segurança pública. Isto é possível, não tem custo e se melhoramos o sistema de informações, os bancos de dados de informações, temos melhorias efetivas em investigações. Claro que isto deve ser feito em parceria com os batalhões da região e com as delegacias. Mas com inteligência policial e investimento em pesquisa, podemos avançar.
Fonte: Folha1

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