Infectologista Kleber Luz compara a trajetória da busca pelo imunizante a uma corrida de obstáculos. Ministério da Saúde diz que inclusão é prioridade: Brasil teve recorde de mortes pela doença em 2022.
A vacina contra a dengue Qdenga (TAK-003) deve estar nas clínicas particulares do Brasil no segundo semestre deste ano, de acordo com informações dos representantes do laboratório japonês Takeda Pharma e da associação do setor.
Ainda não há previsão de inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), mas o Ministério da Saúde afirma que a questão é tratada como prioridade. A Qdenga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na quinta-feira (2).
O imunizante, liberado para pessoas de 4 a 60 anos, pode ser aplicado em quem teve e quem não teve a doença.
Para o infectologista Kleber Luz, consultor de arboviroses da Organização Mundial da Saúde (OMS) e coordenador do comitê científico de arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a aprovação é um avanço e um primeiro passo no combate à dengue.
“A aprovação representa a primeira barreira em uma corrida de obstáculos. Se a Anvisa não aprova, nem pensamos em utilizar. O último obstáculo é a vacinação no Sistema Único de Saúde (SUS). É uma boa notícia, representa uma possibilidade de uso pelo nosso país”, diz o médico, que também faz parte do comitê técnico da dengue na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
O Aedes aegypti também transmite a zika e chikungunya. Apesar de ser o mesmo vetor, as doenças são de vírus de famílias diferentes. Por isso vale lembrar que a vacina é contra o vírus da dengue, não é contra o mosquito.
Aedes aegypti, transmissor da dengue. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém as pessoas mais velhas e aquelas que possuem doenças crônicas, como diabetes e hipertensão arterial, têm maior risco de evoluir para casos graves e outras complicações que podem levar à morte.
Além da vacina (que ainda não está disponível para uso), não existe um medicamento específico para a doença. A medicação serve basicamente para aliviar as dores. A hidratação do paciente é parte importante do tratamento, pois a dengue é uma doença que faz a pessoa perder muito líquido. Por isso, é preciso beber muita água, suco, água de coco ou isotônicos.
Os principais sintomas são:
- Febre alta > 38°C
- Dor no corpo e articulações
- Dor atrás dos olhos
- Mal estar
- Falta de apetite
- Dor de cabeça
- Manchas vermelhas no corpo
“Não existe dengue sem febre. A dengue também não produz edema nas juntas e articulações e dificilmente dá sinal respiratório. Com a Covid circulando, é importante se atentar aos sintomas. Se você tiver febre com tosse, dor de garganta, espirro, faça o teste da Covid. Inchaço nas articulações, nas juntas, é caminho do chikungunya. Agora, se você tem muita dor muscular, pode ser dengue”, orienta o consultor da OMS.
Vacinas contra a dengue no Brasil
A Anvisa já aprovou uma outra vacina contra a dengue. É a Dengvaxia, da Sanofi Pasteur. No entanto, ela só é vendida na rede privada e não é recomendada para quem nunca entrou em contato com o vírus.
A Dengvaxia é indicada para indivíduos de 9 a 45 anos com infecção prévia por dengue (é preciso fazer o teste sorológico para saber se já teve a doença) e seu esquema de administração consiste em três doses, que devem ser intercaladas num intervalo de seis meses.
Já a TAK-003, da Takeda Pharma, está liberada para a faixa etária de 4 a 60 anos, com ou sem infecção prévia. Ela é aplicada em um esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações. Ela é composta por quatro sorotipos diferentes do vírus da dengue.
O Instituto Butantan também está desenvolvendo uma vacina contra a dengue: a Butantan-DV. A vacina está sendo produzida com os quatro tipos do vírus da dengue atenuados, ou seja, enfraquecidos. A expectativa é que uma dose seja suficiente, já que, segundo os estudos, a dose adicional não induziu diferenças significativas.
Fonte: g1